Metrô de São Paulo. As pessoas amontoam-se na plataforma, como de costume empurrando-se, impacientes com a demora de 105 segundos entre um trem e outro.
Quando as portas do vagão se abrem, a agressividade ainda potencial se realiza, e os empurrões, não raro, involuem para cotoveladas, e chutes.
Nessa terça-feira, aconteceu o previsível: um idoso foi arremessado aos trilhos pela multidão. Ainda foi atropelado pela composição!, mas foi socorrido com vida.
Comentava o fato com minha namorada quando entramos no elevador com uma moça que, simpática à sua maneira, puxou conversa, contando que foi vítima da paralisia do metrô causada pelo incidente. "Acho que ele morreu, mas se não tivesse morrido, eu teria descido nos trilhos e matado" contou, encantada com a própria presença de espírito.
A indiferença moderna se desenvolve a tal ponto que entre a vida do outro e uns minutos de espera pelo trem, a escolha não enseja mais maior reflexão - não se economiza tempo para gastá-lo com reflexões.