segunda-feira, 28 de abril de 2008

Acordei bemol





acordei bemol

tudo estava sustenido

sol fazia

só não fazia sentido



Esse é um poema muito legal do Paulo Leminski, um poeta curitibano falecido em 1989.


Para quem não conhece teoria musical: a expressão "bemol" significa um recuo de meio tom em dada nota. Dó bemol, por exemplo, está meio tom atrás do nota dó. "Sustenido" é o contrário: meio tom pra cima.


Se vc acorda bemol, é porque está para baixo. E se tudo está sustenido, então o mundo está soa em tom diverso do seu. Vc está em desarmonia com todo o resto, está deprê...


"Sol fazia", ou seja, tudo estava como sempre esteve (Sol astro ou sol nota musical?), tudo normal; mas, como o poeta está bemol, então não fazia sentido.


Muito legal ele utilizar essa linguagem da teoria musical para descrever sentimentos, até porque a música faz isso mesmo: expressa por sons o que não conseguimos expressar com palavras.


Gosto muito desse poema. Não sei se algum entendido de poesia acha bom, mas eu acho demais...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

?


Será que se, em lugar da menina de 5 anos Isabella, morrer misteriosamente algum pretinho na periferia (só uma hipótese), a polícia e o Ministério Público vão dar a mesma atenção para o caso? Vão mandar peritos no local do crime? Vão fechar a delegacia à toda a população, só para tomar o depoimento do pai da vítima?


A imprensa, claro, não mandaria helicópteros sobrevoarem o suposto barraco onde o suposto menino supostamente morreu, porque os urubus da mídia só rapinam o que for notícia. E um garoto pobre morrendo na favela não é mais notícia nesse país faz tempo.


E a condenação sumária dos suspeitos? A prisão temporária do casal de meros suspeitos foi uma aberração jurídica. Culpados ou não, isso será decidido no processo, e não no curso de um inquérito policial ainda inconcluso. Na verdade, pouco importa se não mataram a menina, já estão perpetuamente estigmatizados pelos jornais e pelo promotor público (público?).


Essa história tem trazido à tona mais horrores do que o inquérito policial pode revelar.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Drummond na prova




Fiz a prova da segunda fase do Concurso de Admissão para a Carreira Diplomática. Foi muuuito difícil. Não sei se deu, mas tudo bem, estou feliz onde estou e com quem estou.


A redação era sobre um poema de Drummond, "Legado":


Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.

E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.

Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém o mais secreto espinho.

De tudo quanto foi meu passo caprichoso
na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.


Sim, era uma redação sobre esse poema. Gastei a maior parte do tempo tentando decifrá-lo. Os versos 7 e 8 não entendi ainda, nem sei se um dia vou entender. Mas tô feliz!